terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Lá no meu pé de serra, deixei ficar meu coração!




   
De Salgueiro a Exu

Quarta-feira, dia 12 de dezembro de 2012, o sétimo e último dia de pedaladas rumo a Exu havia chegado. Despertei às 3:30 da manhã e não consegui mais dormir, então comecei meus preparativos para voltar à BR 232. Como informei na minha segunda postagem intitulada "Quer ir mais eu? Vamo, Quer ir mais eu? Vambora", eu havia traçado duas rotas que teriam o mesmo itinerário até a cidade de Salgueiro. A partir desta cidade, eu deveria seguir por Parnamirim, Ouricuri e Bodocó até chegar a Exu (cerca de 180km) ou poderia seguir por Serrita, Ipueira e Moreilândia até Exu (cerca de 106km). Analisando a quilometragem de cada rota, parecia bem fácil a escolha pela rota que seguiria por Serrita. Mas na verdade, a decisão não era tão simples assim. Antes de iniciar a viagem, eu havia sido informado por um Policial Rodoviário Federal que a rota mais segura seria por Parnamirim. Quando cheguei em Serra Talhada, conversei com outros dois policiais rodoviários e eles me disseram que a PE 507, rota por Serrita, não tinha acostamento e nem fiscalização. Pedalar sem acostamento é complicado, mas a meu favor eu tinha o fato de que, mesmo sem acostamento, a PE 507 tem um tráfego bem reduzido e mais ainda no horário em que eu estaria pedalando por ela. Não pensei duas vezes, decisão tomada, Serrita aqui vou eu, Exu que me aguarde!
Tirando onda!!! A decisão já estava tomada antes de pegar a estrada! Eu não seguiria por Parnamirim, no meu caminho estaria Serrita, A Capital do Vaqueiro!

Assim que saí da BR 232, avistei, pela primeira vez, uma placa com indicação da quilometragem para a cidade de Exu. Foi um estímulo! Exu estava a menos de 100km! Que bom!

Até cerca de 5km após Serrita, a PE 507 tem bastante buracos e o acostamento inexiste, e, quando existe, só tem pedras! Mesmo sem acostamento, como eu havia previsto, a viagem pela PE507 foi sem grandes riscos. Os poucos carros que passavam por mim, entravam completamente na contramão e não me colocavam em perigo. Percebi que, não obstante os conselhos dos policiais rodoviários, eu tinha tomado a decisão acertada de seguir por essa estrada.
Mais uma vez, ouvi buzinadas de incentivo. Quando parei numa lanchonete, conversei com um motorista de caminhão que disse ter passado por mim alguns quilômetros antes: "passei por você numa subida, ía diminuir a velocidade para você pegar uma carona na carroceria do caminhão, mas percebi que você vinha numa boa velocidade e que não precisaria de ajuda", disse ele. Conversei um pouco, falei de onde vinha e qual era o meu destino! Entreguei alguns panfletos falando sobre Jesus Cristo e segui minha viagem! Durante toda a viagem, eu distribui vários panfletos evangelísticos e graças a Deus as pessoas foram bastante receptivas.

PE 507 - Quando tinha acostamento era assim, e como eu andava pisando em ovos por causa dos furos no pneu no dia anterior, evitei ao máximo transitar nesse campo minado (acostamento).




Serrita é Conhecida pela Missa do Vaqueiro, o que eu não sabia é que o Parque do Vaqueiro fica a 34km de distância da entrada da cidade! Bem longe! Dessa forma, passei por Serrita mas não vi o parque!



Foram mais de vinte refeições na estrada (durante as pedaladas e nos locais onde fiquei hospedado). Apesar da maioria das pousadas onde fiquei oferecer café da manhã, não provei o cardápio de nenhuma delas, uma vez que minhas pedaladas se iniciavam às 5:00 da manhã e o café geralmente era servido às 7:00 horas. Por isso, comia algo antes de sair, no quarto mesmo, e sempre dava um jeito de parar em torno de 7:00 da manhã para comer um pão e tomar um café com leite!

Em Serrita - Não tinha leite, mas o café estava muito bom!!! Não tão bom quanto o da 6ª Vara de Família da Capital!!!






















O relógio marcava mais ou menos 10:00 da manhã e Exu estava a 49km! Um carro freiou e seguiu ao meu lado..."está indo para o crato?", indagou o motorista. "Não, meu destino é Exu", respondi. O motorista então disse: "Cara, passei por você ontem, em Salgueiro, desse jeito quando você chegar em Exu a Globo vai te entrevistar!". "Tomara", disse eu. Ele desejou boa viagem e saiu buzinando! E eu fiquei agradecendo a Deus por mais uma boa pessoa ter cruzado o meu caminho.

Serrita - Situação difícil do gado! Deu uma tristeza!
A Magrela Rodando a 29km por hora! Até este ponto, eu tinha pressa para chegar!





















 Quem não lembra da música de Gonzagão, ABC do Sertão!? Quando vi esse grupo escolar me veio logo esta música à cabeça: "Lá no meu sertão pros caboclo lê - Têm que aprender um outro ABC - O jota é ji, o éle é lê - O ésse é si, mas o érre - Tem nome de rê". Saí da estrada, pneu na terra, cheguei na frente da escola e disse: "galera, quero tirar uma foto com vocês". Foi uma festa só! Garotada animada da gota! Eles não estavam em aula! Estavam escutando e dançando forró! Disse logo: "que moleza é essa de vocês! Não vão estudar não é? kkkk... "Hoje é festa", responderam rindo!!!



Entrada para o Araripe - Neste ponto, 12km me separavam do centro de Exu


















 Foi no Araripe, povoado que faz parte de Exu, mas precisamente na Fazenda Caiçara, que nasceu Luiz Gonzaga. A casa onde ele nasceu não mais existe, há apenas uma indicação da localização. No entanto, a casa de Bárbara de Alencar, para quem sua família trabalhava, ainda está de pé!
Para chegar no local onde Gonzagão nasceu, enfrentei uma estrada de terra batida...















































Apesar das incrições na parede, esta casa (foto acima) não teria sido a casa daquela famosa volta de Gonzaga, quando ele pede água ao seu pai... fato contado na música Respeita Januário. A casa acima foi construída por Gonzaga para Januário e era onde Gonzaga passava as "férias". Se foi construída por ele para seu pai, presume-se que ele já havia voltado!


A casa teria sido esta, "amarela" da foto acima. "ô de casa, tô vindo do Rio de Janeiro, trago um recado pro sinhô"... " isso é hora de você chegar em casa seu corno!?"


O rosto cheio de protetor solar


























Fiquei de 11:30 até mais ou menos 13:30 no Araripe e quando resolvi ir para Exu, me arrependi. O sol estava queimando tudo que tinha pela frente! Não tive alternativa, parei em baixo de uma árvore, bebi muita água e comi uma bananinha!







Exu a 2km!!! Estava chegando ao fim a viagem! Parecia não acreditar que tinha rodado tanto com minha magrela pelo agreste e sertão de Pernambuco. Fiquei quase meia hora nesse ponto, na verdade, eu não queria chegar. Não se trata de onde saio nem pra onde vou, o negócio é por onde vou, é o caminho, a estrada, a ladeira, a trilha, tudo isso é mais importante do que simplesmente chegar! Chegar é um detalhe, minúsculo, diante do que se faz ou se fez pra chegar lá! Talvez por isso tenha ficado tanto tempo aí, neste local, sem querer descer a ladeira e chegar ao centro da cidade de Exu!


Os dedos querem indicar o numeral 2, 2km!!!!








Resolvi descer a ladeira rumo ao centro da cidade...e assim, após 7 dias e depois de mais de 640km pedalados, cheguei, com a Graça de Deus, ao meu destino final, Exu!


































Recepção super calorosa!!!!!!!!!


Quero agradecer, em primeiro lugar, a Deus por ter me proporcionado esta experiência maravilhosa! Agradeço a Ele por todos os sorrisos e mãos amigas que encontrei ao longo do caminho. Agradeço por ter me livrado de todo o mal: "Caiam mil ao teu lado, e dez mil, à tua direita; tu não serás atingido." Salmos 91:7. Agradeço ao meu amigo, parceiro de pedaladas e irmão em Cristo Jesus, Dênis! Foi muito importante ter tua companhia durante o primeiro dia de pedaladas e em boa parte do segundo dia! Valeu! Agradeço pelas buzinadas, acenos e palavras de incentivo dos motoristas... ...isso me motivava pra caramba! Agradeço a todos os meus amigos que não me tiraram de suas orações! Agradeço a todos aqueles que me incentivaram. Agradeço aos que me alertaram quanto aos perigos, mas nem por isso tentaram me desmotivar, pelo contrário, deram uma palavra de apoio! Agradeço à minha noiva que soube compreender meu sonho e não colocou obstáculos nem barreiras que pudessem me impedir de realizá-lo. Agradeço ainda sua coragem, por ter viajado sozinha, durante a noite, por mais de 10 horas, para se encontrar comigo lá em Exu! Agradeço aos meus familiares e peço desculpas a eles por deixá-los preocupados, mas era preciso viver! É preciso viver! O medo não pode e não deve tirar nossa vontade de viver!  Não quero uma morte em vida!

Obrigado Meu Deus!!!! 
Obrigado a todos!!!!

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Fotos em Exu
Minha morena, Lane, foi ao meu encontro! Saiu sozinha de Recife na noite da sexta-feira dia 14 e chegou sábado bem cedo! Que bom! "Vem morena pros meus braços, vem morena vem dançar...."
Caminheiro sem destino / O destino é Deus quem dá / Sempre em paz comigo mesmo / Coração só pra cantar
Um xamego hoje aqui / Amanhã, um dengo acolá / E o pó das estrada apagando / Os xodós que eu tive por lá
Foi entonce que ela surgiu / Tava escrito Girlane chegar (Orélia - Luiz Gonzaga)

Roberto Encarnação - Corridas e Pedaladas - O cara saiu de Salvador em direção a Exu. Nos encontramos no Parque Aza Branca, ocasião em que concedemos uma entrevista ao Diário de Pernambuco. Grande Abraço pra você meu irmão!





Exu aos pés da Serra do Araripe











terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Perseverança e Superação!

Dos seis dias pedalados, o de hoje, trecho Serra Talhada - Salgueiro, foi o mais desafiador!

Serra Talhada
 Não o foi pela quilometragem, cerca de 105 km, mas sim pelo imprevistos, dois furos no pneu traseiro. A primeira bronca aconteceu quando eu tinha pedalado pouco mais de 25km em direção a salgueiro. Descarreguei os alforges, virei a magrela, tirei a roda com o pneu e troquei a câmara de Ar. Enquanto fazia o serviço, percebi que o pneu já estava um pouco gasto, o que me deixou preocupado. Câmara de ar trocada, pneu colocado no lugar, segui minha jornada...Perdi de 20 a 30 minutos nessa brincadeira.
Primeiro Furo
 Minhas expectativas de chegar em Salgueiro mais cedo para evitar o sol, começaram a cair por terra! Alguns quilômetros adiante, para minha tristeza, mais uma vez o pneu traseiro baixou! Caraca! Mais atraso significa mais sol na cara, mais desgaste. Não tive dúvida, tirei o pneu e a câmara e coloquei o pneu reserva e outra câmara de ar, ambos 0km! 
Pneu novo
Esse segundo furo me custou mais alguns preciosos minutos. E a essa altura, não era mais possível chegar em Salgueiro às 10:30 como eu pretendia. Essa fixação no horário tem uma explicação muito simples. Em dias de sol, para quem pedala, a estrada se torna uma verdadeira frigideira. Sobe um bafo quente do asfalto e por cima, para completar, o sol castiga!

Pouco antes de Cachoeirinha e até chegar em Salgueiro, percebi que a paisagem tinha mudado... O cinza, cor predominante das árvores queimadas pelo sol, havia se transformado em verde, isso mesmo, a vegetação estava verde. Conversei com um morador de Cachoeirinha e ele me disse que havia chovido nos últimos dias naquela região... graças a Deus a chuva está chegando, mesmo que de forma isolado.

Já havia passado das 11:00 horas e o sol estava me castigando. Fora o cansaço, eu ainda estava preocupado com o pneu. Será que ia rolar mais um furo! Galera, se acontecesse eu não faria uma terceira troca não, ia ficar na estrada, pedindo carona para chegar em Salgueiro. Estava cansado e física e mentalmente.
Estava ansioso por chegar em Salgueiro, mas sabia que quando chegasse na placa que indica o quilômetro 500 da BR 232, eu estaria mais próximo da cidade.

Galera, quando cheguei nessa placa.... bom, a foto diz tudo! Quem se mete numa dessas que eu me meti sabe como é... Valeu meu Deus!

E quando eu vi, ainda distante, a cidade de Salgueiro foi um misto de olhos molhados e sorriso no rosto. Olha a cara de felicidade e alívio!

Mais um dia cumprido! Mais uma etapa vencida! Agradeço o incentivo dos meus amigos, dos meus familiares e a oração de todos!
E agradeço é lógico, não por último, como de propósito fiz nesta postagem, mas em primeiro lugar ao nosso Deus! A ele toda honra, glória e louvor, pelos séculos dos séculos. Amén Jesus!


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Rumo à terra de Lampião!

Saí de Custódia às 05:00 horas da manhã e cheguei em Serra Talhada às 10:00 horas. Foram 80km de calmaria. O ceú estava com muitas nuvens o que facilitou minha vida. O sol mal apareceu durante todo o percurso e, como choveu na noite passada, não estava abafado.
Ainda bem que os dias têm exorcizado os fantasmas que teimam em aparecer na hora de deitar. Quando a manhã chega e com ela os primeiros raios de sol, a estrada se torna minha terapia... os medos desaparecem!
Hoje, pedalei boa parte do caminho ouvindo o canto dos pássaros à beira da estrada... muito bom!
Amanhã sigo para Salgueiro. Espero chegar lá, no máximo, às 11:30!

Segue algumas imagens do que tenho visto ao longo do caminho....

Lembrei de Luiz Gonzaga e sua Apologia ao Jumento "O jumento é nosso irmão"


Silmara - Algum lugar entre Custódia e Serra Talhada
 O nome da garotinha da foto acima é Silmara. Ela estava com um caderno na mão, estudando, e ajudando provavelmente os pais a vender castanha de caju e mel... Ela não queria sair na foto, aí tirei escondido e mostrei a ela... Fico na torcida pra que Deus a abençoe e ela seja muito feliz...



Vejo tantas casinhas assim ao longo do caminho...  Ainda bem que a felicidade não tem um padrão definido... que bom! Isso explica porquê tantos sertanejos são tão felizes, apesar de tudo!


Qualquer chão de terra batida somado a alguns pedaços de madeira, é suficiente pra fazer a magia do futebol acontecer! Eita como era bom meu tempo de criança, jogando futebol na rua de casa! Saudades



Talvez os céus tenham se comovido com a dor e o sofrimento do povo do sertão e do animais dessa região e deixado cair suas lágrimas sobre a terra sedenta! Que mais lágrimas caiam do céu! A terra precisa desse choro... 



Serra Talhada, ao fundo, bem ao fundo né, mal dá pra ver! kkk


Lemos e Magalhães, se não estou confundindo os nomes. Muito simpáticos e prestativos... me deram algumas dicas sobre a estrada e que caminho seguir... 

Chegada em Serra Talhada! Obrigado Meu Deus!